quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Maratona hospitalar.

Foi na noite de domingo para segunda feira, dia dois para o dia três de fevereiro de dois mil e quatorze.
Ele já vinha bastante irritadiço por causa do calor de mais de trinta graus, mas geralmente eu lhe molhava  um pouquinho a nuca e ele ia se deitar à frente do ventilador, dormindo pesadamente em seguida.
Mas nessa madrugada alguma coisa não estava certa. O andar compulsivo habitual era outro. O stress do calor era outro. O chorinho baixinho também era outro.
Eu havia dado todos os remédios nos horários de sempre, deveria estar tudo ok. Até cedi meu ventilador para ele, para ver se ele se acalmava  um pouco e dormia (e me deixava dormir), mas nada dava certo nessa madrugada.
Meu avô sempre dizia (e nós tirávamos um sarro): "à noite é tudo difícil" e ele estava coberto de razão, porque o sono, o calor e a preocupação com tudo isso que, na minha cabeça, não deveria estar acontecendo, começou a me irritar e fiquei estupidamente de mau humor, a ponto de tentar dormir enquanto meu amigo ficava lá se batendo pelos cantos da casa. Ai de mim, quanta ignorância! Agora eu penso e me envergonho totalmente. Deveria ter tido mais paciência. Deveria ter compreendido melhor. Deveria... tanta coisa, mas por algum motivo o ser humano (eu, no caso) não consegue acertar sempre, e seguimos a madrugada assim: ele irritado, doido, andarilho de corredor, cabeceador profissional de paredes e quinas; eu irritada, sonolenta, mau-humorada... nem desconfiava que ele estaria passando por maus bocados naquela madrugada.

Dez horas da manhã: ele dormiu! Vencido pelo cansaço de uma noite de choros e caminhadas talvez, mas dormiu, e era isso que eu precisava para me tranquilizar, porque achava que seria sinal de que estava mais calmo e se sentia melhor. Engano meu.
Onze  horas, meio dia, uma da tarde, duas, três, quatro...ele dormia profundamente. Seguindo recomendações da cardiologista, acordei-o para tentar dar-lhe algo de comer. "Ração? Nem pensar!.... Biscoitinhos: só uma cheiradinha.".................. "Banana! Banana deve resolver!"
Ele cheirou e se interessou, mas alguma coisa o impedia de abrir a boca para comer. Ele estava mole, pescoço bambo, os dois olhos fechados, mas acordado. Resolvi então abrir-lhe a boca e colocar a banana à força. Sucesso! Ele comeu. Um pedacinho, dois, três, e só. Voltou a dormir.
Dormiu até cinco e meia da tarde, e vendo-o dormir daquele jeito, todo torto, respiração ofegante, não pude evitar de pensar: é agora... aquele momento que todo mundo sabe que vai chegar, que está cada dia mais perto, mas que todo mundo prefere ignorar.

Cabe fazer um parênteses aqui para louvar e agradecer a nossa querida e grande amiga R.L.:
A R. é uma alma iluminada que veio a este plano para ajudar os animais e as pessoas. Ela tem em sua casa 3 cães-SRD (sem raça definida) super sapecas que ela salvou de um destino terrível, cuidou da Filó no finalzinho de sua vida, e agora está com mais um sapeca que ainda não conhecemos (estava ameaçado de ser jogado sem dó e à própria sorte na Raposo Tavares, e nossa querida o salvou também!). Ela que cuida sempre do Boomer com muito esmero quando viajamos, cuida de mais não-sei-quantos cães de amigos quando precisam, ajuda a ONG Cão Sem Dono... enfim, é um verdadeiro anjo que temos o privilégio de ter em nossas vidas.
A R. trabalha com terapias ligadas ao corpo energético, como terapia craniossacral, reflexologia podal, reiki... e neste dia ela vinha em casa.

Quando ela adentrou nossa sala, eu estava no meio da minha reflexão sobre este momento fatídico que deveria estar para chegar, olhando fixamente para meu peludo que dormia desmaiado e resfolegante em frente ao ventilador.
Ela olhou para mim, olhou para ele, e logo percebeu. "Acho que ele está passando..." eu disse, contendo o choro. Ela me abraçou forte e logo colocou-se prontamente sentada ao lado dele, posicionou as mãos e fez com amor e bondade o que ela sabe fazer muito bem.
Em torno de uma hora ele acordou e se pôs a andar, mas estava cambaleante, os olhos cerrados, nervoso e choroso.
Chega, eu disse, vamos levá-lo ao veterinário 'que isso não é normal!

Ele ficou internado. 4ª internação.

Segunda feira, 03 de fevereiro de 2014.
Pressão arterial: 250.
Alternância entre estados de excitação e sono profundo.
Soro, Gardenal, Manitol, Besilato de anlodipino, Maleato de enalapril.
Hemograma, função renal, ultrassonografia abdominal, glicemia...........
Sem comer.


Terça feira, 04 de fevereiro de 2014.
Pressão arterial: 240.
Alternância entre estados de excitação e sono profundo.
Soro, Gardenal, Manitol, Besilato de anlodipino, Maleato de enalapril....
Comendo pouco.

Quarta feira, 05 de fevereiro de 2014.
Pressão arterial: 240.
Alternância entre estados de excitação e sono profundo.
Soro, Gardenal, Manitol, Besilato de anlodipino, Maleato de enalapril, Carvedilol....
Voltou a comer, mas vomitou  na madrugada.
"Como temos suspeita de estes sintomas terem origem no alzheimer ou num tumor cerebral frontal, temos mais uma medicação para tentar, que pode estabilizar o quadro (com pouca chance de melhora) no caso de alzheimer, ou pode piorar o quadro no caso de tumor. Para termos o diagnóstico exato, precisaríamos de uma ressonância magnética, que envolve anestesia geral, e está fora de cogitação. Esta medicação seria um tiro no escuro e preciso do consentimento de vocês para aplicá-la como último recurso."
"Ok. Vamos tentar..." 
"Daremos a nova medicação e manteremos em observação por mais 24 horas."
 Nova medicação: Revimax.


Quinta feira, 06 de fevereiro de 2014, 12h 15min.
Pressão arterial: 170 (!!!!!!!!!!)
Estados de excitação menos frequentes, sonolência.
Soro, Gardenal, Manitol, Besilato de anlodipino, Maleato de enalapril, Carvedilol, Revimax.
Comendo bem.
"Ele diminuiu bastante a ansiedade. Percebemos que umas cinco, seis horas após o Gardenal ele começa a ficar ansioso novamente, então vamos aproximar as doses para serem ministradas a cada oito horas. Ainda não sabemos os resultados do revimax, pois leva de vinte quatro à quarenta e oito horas para fazer efeito. Mantendo a pressão abaixo de cento e oitenta durante a tarde toda, à noite ele poderá voltar para casa, mas amanhã vocês precisará trazê-lo para medirmos a pressão novamente."
"Maravilha!"


E cá estamos nós: Quinta feira, 06 de fevereiro de 2014, 15h 17min, aguardando o período convencionado como "tarde" passar, e esperando pelo melhor.

Devo confessar a vocês a tristeza que tomou conta de mim nestes longos e terríveis três dias, que mais pareceram longos, terríveis e mecânicos seis períodos de alternância entre muita luz (convencionado como dia) e pouca luz (convencionado como noite), com pensamentos estanques, olhos empapados, cabeça pulsante... resignação e, principalmente, impotência.
Impotência diante do sofrimento de um amigo querido. Oferecendo-lhe algumas substâncias e aguardando seus efeitos à medida do passar cruelmente lento do tempo.
Realmente, "o tempo é elástico". Não flexível, pois não se pode negociar com ele, mas elástico, que se estica e encurta ao sabor dos sentimentos.



Agradeço imensa e especialmente à minha mamãe queriiiiida, que passa as madrugadas de olho em mim pra ver se está tudo bem!
{Ela acha que eu não percebo, mas na verdade sei que ela se segura firme e deixa os próprios sentimentos em segundo plano para poder ficar firme como sempre e me dar o apoio que eu estiver precisando a qualquer momento}
Valeu, mãe!!!!!!!!
Agradeço também ao meu pai, meu irmão, meu namorado e amigos que estiveram esta semana toda sempre perto, prontos para ajudar!

Não sei como será daqui para frente, mas espero poder em breve trazer mais uma postagem a vocês com boas notícias.
Aos papais e mamães que passam por situações semelhantes neste momento: Força! Mantenham a calma! Pensem sempre no bem estar do(a) peludo(a). Façam o melhor, o que vocês reconhecem como dever, o que estiver ao alcance de vocês e fiquem tranquilos, pois, embora acreditemos que tudo está sob nosso controle, no fundo, nós é que somos controlados [por Algo Maior].


"O melhor acontece para cada um."

Dormindo no chão do banheiro para refrescar.
Antes da "madrugada".

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